quinta-feira, 13 de março de 2008

A Bússula de Ouro



Começou a exibição do filme A Bússola de Ouro nos cinemas brasileiros. A Bússola Dourada, foi baseada nos livros de Philip Pullman, chamados 'HIS DARK MATERIALS', que significa aproximadamente: 'Seus Trabalhos das Trevas'. Philip Pullman, admitiu no ano de 2003, 'Meus filmes são a respeito da morte de Deus', e mais tarde admitiu que seu objetivo é que as crianças de todo mundo 'decidam contra Deus e o Reino dos Céus'. Ele ainda disse, que a 'Religião Cristã é um poderoso e convincente erro, só isto', e declarou que a maneira de alcançar todo mundo ' é escrever livros para as crianças', e desta forma contaminar toda uma geração.

Satanás sabe muito bem como usar os seus instrumentos contra o cristianismo e a verdade de Deus. A mídia tem sido uma arma poderosa em suas mãos. O maior problema é que ele sabe como estimular os pensamentos das crianças, que são seus principais alvos. Na Inglaterra, os livros de Pullman são mais populares do que Harry Potter (a série sobre o menino que pratica bruxarias), e esses livros estão começando a ganhar força principalmente nos EUA. Em uma de suas citações Pullman diz o seguinte de Deus: “A Autoridade, Deus, o Criador, o Senhor, Yahweh, El, Adonai, o Rei, o Pai, o Todo-Poderoso, todos esses são nomes que ele deu a si mesmo. Ele nunca foi o criador. Ele era um anjo como nós, o primeiro anjo, é verdade, o mais poderoso, mas era feito de Pó como nós somos, e Pó é apenas um nome para o que acontece quando a matéria começa a compreender a si mesma. A matéria ama a matéria. E busca saber mais a respeito de si mesma, e o Pó adquire forma. Os primeiros anjos se condensaram a partir do Pó e a Autoridade foi o primeiro de todos. Ele disse aos outros, que vieram depois, que ele os havia criado, mas era mentira. Um desses que vieram mais tarde era mais esperto do que ele, descobriu a verdade, de modo que ele o baniu. Nós ainda o servimos. E a Autoridade ainda prevalece no Reino e Metatron é seu regente”.

Pullman, inspirado por Lúcifer, quer incutir na mente de quem lê seus livros, ou assisti ao filme, uma evolução “divina”; e coloca a Deus como usurpador da posição de Criador. Talvez para as mentes que estão acostumadas com a “filosofia” da evolução, esta afirmação venha fazer algum sentido. Assim como ele, Lúcifer, tentou a Cristo no deserto dizendo ser Jesus um anjo caído, está divulgando a idéia de que Deus não passa de um mito. A escritora Ellen White diz: “Quando o Filho de Deus e Satanás, pela primeira vez, se defrontaram em conflito, era Cristo o comandante das hostes celestiais; e Satanás, o cabeça da rebelião no Céu, fora dali expulso. Agora, dir-se-ia haverem-se invertido as condições, e o adversário explorou o mais possível sua suposta vantagem. Um dos mais poderosos anjos, disse ele, fora banido do Céu. A aparência de Jesus indicava ser Ele aquele anjo caído, abandonado de Deus, e desamparado dos homens. Um ser divino devia ser capaz de comprovar sua pretensão mediante um milagre; "se Tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães". Mat. 4:3.Tal ato de poder criador, insiste o maligno, seria conclusiva prova de divindade. Isso poria termo à contenda.” (O Desejado de Todas as Nações, p. 119.)

Com certeza esta produção cinematográfica é tremendamente atraente aos olhos inocentes dos nossos filhos, mas graças a Deus que temos discernimento suficiente para sabermos que “nem tudo que reluz é ouro”. Sigamos o conselho da Palavra de Deus: “Não porei coisa má diante dos meus olhos. Odeio a obra daqueles que se desviam; não se me pegará a mim". Salmos 101:3

Pr Vicente Pessoa

Fonte

Você pode confiar nas Traduções? [Série "Você pode confiar na Bíblia?"]

Um amigo meu, que é pastor, gosta de fazer referência freqüente a uma versão do Novo Testamento que, por acaso, tem uma encadernação levemente azul. Esta é, muitas vezes, causa de preocupação para sua esposa, pois, como pode um livro encadernado em azul ser a Bíblia?

Tenho em casa mais de uma centena de versões e edições diferentes da Bíblia. Algumas das mais recentes até em brochura! Entretanto, minha coleção está longe de ser completa.

Parece que ninguém sabe exatamente quantas traduções inglesas já apareceram até agora. Tenho uma lista de pelo menos duas centenas do Novo Testamento. Há muitas outras de livros do Novo Testamento separados. Infelizmente, há muito menos traduções do Antigo Testamento.

Alguns estudiosos sinceros da Bíblia acham de certo modo desconcertante que haja tantas versões diferentes das escrituras. E quase todos os anos se vê a publicação de mais uma.

Podem todas essas traduções e versões pretender, com justiça, ser a Palavra de Deus? Pode-se confiar em todas elas?

Os que visitam minha sala de estudo muitas vezes perguntam: “Que tradução o senhor considera melhor? Qual delas o senhor acha mais autêntica?”

Naturalmente, a Bíblia mais autêntica é o original hebraico, aramaico e grego – até onde foi possível recuperar a redação original dos manuscritos e outras fontes.

Mas poucas pessoas tiveram a oportunidade de estudar as línguas bíblicas. Nem é necessário que tivessem.

Por isso, devemos eterna gratidão aos muitos estudiosos nobres que, através dos séculos, assumiram a responsabilidade de traduzir a Bíblia para os idiomas do mundo.

Alguns livros da Bíblia têm sido traduzidos para mais de mil línguas, além da nossa própria. Podem todas estas traduções pretender ser a Palavra de Deus? Ou apenas as pessoas que falam o inglês foram favorecidas com a verdadeira Bíblia?

Quando as pessoas na Turquia, na Etiópia, na Islândia, na Coréia lêem sua Bíblia na língua pátria, estão elas lendo a Palavra de deus tanto como nós, quando abrimos uma das versões de língua portuguesa? Certamente o estão. Existe apenas uma Bíblia, mas ela se encontra em muitos idiomas.

Um dos relatórios mais interessantes do trabalho de traduzir a Bíblia para as línguas da Terra foi publicado em 1952. Foi escrito pelo secretário para as versões da Sociedade Bíblia Americana, Eugene A. Nida. Ele intitulou seu livro de God’s Word in Man’s Language (“A Palavra de Deus em Linguagem humana”).

O Dr. Nida descreve seu trabalho de assistente dos missionários, na tradução da Bíblia para a língua das pessoas às quais foram servir. Freqüentemente eles entravam em enormes dificuldades para representar idéias bíblicas nas línguas que não possuem nenhum termo equivalente. Às vezes precisam ser feitas muitas modificações interessantes.

Ele cita como exemplo as palavras de Jesus. “Eis que estou à porta, e bato.” Apocalipse 3:20. De acordo com o costume em certas partes do mundo, apenas o ladrão deveria bater. Uma pessoa amiga anunciaria sua chegada, chamando. Dessa forma, a frase memorável foi adequadamente alterada – mas o significado essencial continuou o mesmo.

Depois de muitos anos de experiência, o Dr. Nida pode dizer ainda que embora haja inúmeras traduções, são elas todas a Palavra de Deus – mas na linguagem do homem. Em nenhuma outra já apareceram tantas traduções diferentes como no inglês. A primeira Bíblia inglesa completa foi o trabalho de Wycliffe e seus seguidores. Ela apareceu na Inglaterra em 1382. Naqueles dias as línguas originais da Bíblia não eram conhecidas no Ocidente. Na verdade, o grego foi primeiramente ensinado na Universidade de Oxford no mesmo ano em que Colombo fez sua grande descoberta, 1492! Conseqüentemente, Wycliffe teve que basear sua tradução na Vulgata Latina, por si mesma uma tradução.

A Imprensa ainda não havia sido inventada, tampouco. De maneira que a Bíblia foi toda escrita a mão.

Wycliffe foi chamado “A Estrela da Manhã da Reforma”, não sem motivo. Ele sabia que o povo da Inglaterra precisava ter a Bíblia na própria língua comum, caso devesse aprender a verdade por si mesmo.

A idéia de que simples homens leigos deveriam ter livre acesso às Escrituras, era considerada altamente perigosa pelas autoridades da Igreja, w Wycliffe enfrentou ferrenha oposição. Não obstante, ele continuou sua tradução, sem levar em conta o risco pessoal. Ele morreu de um ataque, mas depois de sua morte as autoridades ordenaram que seu corpo posse exumado e queimado.

Passou-se mais de um século antes do aparecimento de outra Bíblia Inglesa.

Em 1525 – de novo em face de violenta oposição – William Tyndale produziu seu notavelmente completo Novo Testamento em linguagem moderna. Dessa vez traduzido do grego. Era uma publicação muito atraente. O texto foi organizado em parágrafos. Não havia nenhuma divisão de versos, pois estes ainda não tinham sido inventados.

Tyndale não viveu o suficiente para terminar o seu trabalho sobre o Antigo Testamento, muito do qual ele traduziu na prisão. Enquanto refugiado na Europa, exemplares do seu Novo Testamento foram queimados publicamente, assim que eles chegavam de volta à Inglaterra. Finalmente, ele foi preso, enforcado e queimado no poste.

Dos aproximadamente 18 mil exemplares do Novo Testamento de Tyndale, impressos entre 1525 e 1528, apenas dois permanecem hoje – tão determinados eram os esforços para destruir sua versão “herética”. Felizmente, cerca de noventa por cento do maravilhoso trabalho de Tyndale foram preservados na versão da Bíblia King James.

Enquanto isso, em 1522 Lutero publicava seu excelente Novo Testamento em alemão, seguido pelo Velho Testamento em 1534. Ele enfrentou a mesma oposição com que parece ser recebida qualquer nova versão importante da Bíblia.

Para ilustrar a intolerância que tantas vezes parece produzir essa oposição às novas traduções da Bíblia, há a crítica que Cochlaeus dirigiu contra a Bíblia de Lutero:

“O Novo Testamento traduzido por Lutero para a sua língua pátria é, na verdade, o alimento da morte, o combustível do pecado, o véu da malícia, o pretexto da falsa liberdade, a proteção da desobediência, a corrupção da disciplina, a depravação da moral, o fim da concórdia, a morte da honestidade, o manancial dos vícios, a enfermidade das virtudes, a instigação da rebelião, o leite do orgulho, a nutrição do desdém, a morte da paz, a destruição da caridade, o inimigo da unidade, o assassino da verdade!”

Se isto parece incrível, relembra precisamente a linguagem destemperada que saudou a Versão American Revised Standard, em 1952.

Mesmo antes que Tyndale fosse executado, o clima religioso da Inglaterra Estava começando a mudar. Outras versões começaram a aparecer a pequenos intervalos: a de Coverdale em 1535, a de Roger em 1537.

Em 1539 era publicada a primeira Bíblia Inglesa “autorizada”. Ela foi chamada a Grande Bíblia, em virtude do seu tamanho considerável. Uma vez que ela era em grande parte uma revisão da Tyndale, talvez devesse ser conhecida como a primeira versão revista autorizada.

Outras versões continuaram a surgir durante o século dezesseis. Depois de 1557, todas elas possuíam divisões de verso.

Estes 7959 pequenos versos-parágrafos foram organizados por um homem chamado Estefano, durante uma viagem em lombo de animal de Paris a Lion. Algumas das divisões pouco felizes sugeriram que pelo menos alguma parte do trabalho pode ter sido feita em cima do cavalo!

Tomemos por exemplo Apocalipse 20:5. “Mas os outros mortos não reviveram até que os mil anos se acabaram. Esta é a primeira ressurreição”. O arcanjo desventurado destas duas sentenças no mesmo verso sugere que a primeira ressurreição é a dos ímpios e ocorre no fim do milênio!

Mas ninguém precisa jamais ficar preso à divisão dos versos. Ela não possui em si mesma nenhuma autoridade, e não deve trazer nenhuma dificuldade para o leitor que tem o cuidado de estudar todo o contexto.

A mesma coisa é verdadeira quanto à divisão dos capítulos. Estes provavelmente tenham sido introduzidos por volta de 1228, por Stephen Langton, um professor da Universidade de Paris e posteriormente arcebispo de Cantuária.

Uma das Bíblias mais notáveis do século dezesseis foi a Versão de Genebra de 1560. Ela foi preparada pelos refugiados calvinistas da Inglaterra, que haviam fugido para Genebra durante o reinado de Maria. Essa versão é conhecida como “a Bíblia dos Calções”. Pois onde a Versão King James diz que Adão e Eva costuraram folhas de figueira, e fizeram para si “aventais”, a Bíblia de Genebra fala da vestimenta como “calções”.

Essa versão era muito popular e oferecia forte concorrência à posterior Versão King James. Era muito menor e menos dispendiosa. Além disso, continha algumas notas protestantes interessantes a respeito dos católicos romanos.

Oito anos mais tarde, em 1568, apareceu a segunda versão revista e autorizada. Foi chamada a Bíblia dos Bispos, uma vez que muitos dignatários da Igreja haviam tomado parte no trabalho. Sua revisão se tornou a base principal da versão King James.

Por esse tempo, estava surgindo um problema que dizia respeito à Igreja Católica Romana, de acordo com o qual muitos dos fiéis estavam fazendo uso das versões protestantes. Isto levou à publicação da primeira Bíblia Inglesa Católica Romana, o Novo Testamento de 1582, o Antigo em 1610.

O trabalho foi realizado nas cidades de Rheims e Douay, daí ser essa Bíblia conhecida como a versão Rheims-Douay. Uma vez que ela era traduzida da Bíblia oficial da Igreja Romana, a Vulgata Latina, a Rheims-Douay era, na verdade, a tradução de uma tradução. Não obstante, era uma versão fiel.

Às vezes alguém ouve histórias a respeito de alterações graves efetuadas na Bíblia católica. Essas histórias não são verdadeiras. Os Dez Mandamentos, por exemplo, podem ser citados de forma abreviada no catecismo, mas são apresentados integralmente em Êxodo 20.

Acusações de corrupção igualmente infundadas foram assacadas pelos tradutores da Douay contra as versões da Bíblia que eles procuravam substituir. Eles as denunciaram como “traduções falsas” e acusaram os que as fizeram de “corromper tanto a letra como o sentido por falsa tradução, acréscimo, difamação, alteração, transposição, pontuação e todos os meios astutos, especialmente onde isto favorecia suas opiniões particulares”.

Era esperança manifesta dos editores da Douay que sua versão mais digna de confiança levasse os fiéis a “desfazer-se ao menos de suas versões impuras, tais como as que até aqui tendes sido obrigados a utilizar”.

Que a versão seria fácil de ler e de entender não foi preocupação da comissão Rheims-Douay, como eles admitiram francamente. Onde, por exemplo, a Versão King James se refere a “coisas no Céus, e coisas na Terra, e coisas embaixo da Terra”, a versão Rheims de 1582 diz “celestiais, terreais e infernais”. Filipenses 2:10.

Onde Paulo diz, referindo-se a Jesus, “esvaziou-Se a Si mesmo”, os tradutores da Rheims dizem “Ele Se privou a Si mesmo” Filipenses 2:7.

Como se podia esperar, seguindo tão de perto os calcanhares da Bíblia de Genebra com suas notas claras, a Douay retrucou em espécie e extensão na margem.

Na verdade, todas essas Bíblias do século dezesseis foram traduções fielmente exatas. Muitas delas, porém, foram influenciadas pela inclusão de absoluto interesse, mais do que de notas doutrinárias inflamatórias.

Tyndale, por exemplo, observou na margem oposta a história do bezerro de ouro: “O touro do Papa mata mais do que o bezerro de Arão!” Isto foi pensado com dificuldade para moderar a feroz oposição que ele já estava experimentando.

Numa impressão de 1549, da Bíblia de Rogers de 1537, descobri uma observação notável. Diante da instrução de Pedro de que as esposas devem sujeitar-se a seus maridos, a a margem acrescenta: “Ele habite com sua mulher com entendimento; que a tenha como uma auxiliar necessária, e não como uma cativa ou escrava. E se ela não for obediente e útil a ele, esforce-se para incutir o temor de Deus em sua mente, para que por esse meio ela possa ser levada a aprender o seu dever e praticá-lo”.

Como seria se a Bíblia de Rogers de 1549 se tornasse nossa versão comum hoje!

Na Bíblia de Genebra há uma nota relativa a Apocalipse 13:18, explicando que o número 666, o número da besta, refere-se obviamente ao papado.

Na margem da versão Rheims-Douay aparece uma longa resposta destinada a indicar que enquanto pode ser facilmente mostrado que o número se refere a Martinho Lutero, os tradutores não se dignaram conferir-lhe este título, visto que ele não foi senão um precursor do anticristo.

Veio então 1604. Sob o patrocínio do rei James, foram feitos planos para a preparação da terceira versão revista oficial.

O rei havia ordenado que se preparasse “uma versão de boa origem”, que “não fosse tida exatamente como contrária”. Devia basear-se na melhor de suas predecessoras, especialmente a Bíblia do Bispo; não devia conter nenhuma nota doutrinária.

Dessa forma, foi produzida em 1611 a famosa Versão King James, decididamente a mais influente de todas as versões da Bíblia Inglea. Seguidamente ela é citada como “a Versão Autorizada”. Na verdade, nenhum registro de sua autorização foi encontrado até hoje. E uma vez que ela era uma revisão, em lugar de tradução, o nome mais correto talvez devesse ser “Versão Revisada King James”.

Quão diferente era essa edição, das modernas que temos agora! Ela era muito grande e pesava mais de dez quilos. Imagine-se levando um volume dela para a igreja! A ortografia e a pontuação parecem de tipo muito antigo para nós agora. Quando você vir novamente um estabelecimento comercial denominado em ortografia antiga “Pharmacia Homeopatha”, lembre-se de que a Versão King James original era escrita nesse estilo.

Não há nenhum dado na coluna do centro O Arcebispo Ussher ainda não havia empreendido sua cronologia. Havia muito poucas palavras em itálico e pouquíssimas referências com cruz na margem. A maioria das que temos hoje foi acrescentada posteriormente. O resumo dos capítulos e os títulos das colunas eram também diferentes de agora.

Durante muitos anos a Bíblia King James conteve os livros apócrifos. Todas as Bíblias inglesas, fossem protestantes ou católicas, costumavam incluir esse livros extras. A única diferença era que as versões protestantes seguiam a inovação introduzida por Lutero, de agrupar todos estes livros entre os Testamentos, enquanto as Bíblias católicas os deixavam espalhados entre os outros livros, como eram tradicionalmente colocados na Septuaginta grega antiga.

No começo da edição de 1611, havia muitas páginas de dados não mais incluídos – genealogias, calendários, “Um almanaque para XXXIX anos”, “Lições Próprias para serem lidas...aos domingos, do começo ao fim do ano”. A Versão King James original ordenava especificamente a observância do domingo.

Uma das mudanças mais importantes nas edições modernas da versão de 1611 é a omissão do prefácio, um documento muito elucidativo. Doodspeed procuroou durante anos fazer com que essa omissão fosse corrigida, mas sem sucesso. Esse prefácio conta uma história surpreendente da forte oposição à Versão king James, logo que esta apareceu.

Pode-se supor, naturalmente, que o povo inglês estava aguardando com ardente expectativa o aparecimento dessa importante revisão. Mas, mesmo antes da publicação, a comissão já estava sob pesada crítica por presumir revisar a todo custo a Bíblia Inglesa.

A Bíblia do Bispo, de 1568 (a segunda versão autorizada) e a Bíblia de Genebra, de 1560, a essas alturas já se haviam tornado amplamente aceitas na Bretanha. A possibilidade de que a linguagem familiar dessas versões instituídas pudesse ser modificada na versão de 1611, era vista com grande preocupação. Muitos anos depois, afirma-se, os Pais Peregrinos não quiseram ter a bordo do Mayflower uma cópia da Versão King James, porque a consideravam uma tradução moderna. A Bíblia de Genebra era sua versão oficial.

Num esforço para acalmar a desconfiança, a comissão da King James indicou Myles Smith, um de seus componentes, e mais tarde bispo de Gloucester, para escrever um prefácio apropriado para explicação e defesa de sua nova versão. Ele intitulou o documento “Os Tradutores ao Leitor”.

“O zelo para promover o bem comum”, começa ele dizendo”, seja imaginando qualquer coisa pertecente a nós mesmos, ou revisando aquilo que foi produzido por outros, merece certamente muito respeito e estima, não obstante não encontre se não fria acolhida no mundo.

“Pois aquele que mexe com a Religião dos homens em qualquer parte, mexe com seus costumes, ou melhor, com sua propriedade, e embora eles não encontrem nenhum conteúdo naquilo que possuem, não podem conformar-se em ouvir falar de alteração.

“A boca de muitos homens esteve aberta por um bom tempo (e ainda não parou), falando a respeito da Tradução há tanto tempo à disposição(...): e perguntam qual pode ser a razão, qual a necessidade de uso: Foi a Igreja enganada todo esse tempo? Perguntam eles... Era a sua Tradução boa antes? Por que eles a corrigem agora? Não era coisa boa? Por que foi imposta às pessoas?”

Embora os tradutores da King James estivessem submetidos a um certo grau de condenação pública, eles sempre se referiam com grande respeito às versões da Bíblia que haviam aparecido antes do seu tempo.

“Longe de nós esteja condenar qualquer um de seus realizadores que trabalharam antes de nós dessa maneira, cada qual em sua terra ou além-mar, uns no tempo do Rei Henrique, outro do Rei Edward... ou da rainha Elizabete, de saudosa memória, que sabemos terem sido dirigidos por Deus, para a edificação e suprimento de Sua Igreja, e que merecem ser tidos por nós e pela posteridade em perpétua lembrança. (...)

Por esse motivo, benditos sejam eles, e mais honrado seja o seu nome, que quebrou o gelo e deu o passo sobre aquilo que contribuiu para a salvação de almas.

Ora, que pode ser mais válido também do que entregar o livro de Deus ao povo de Deus, numa linguagem que ele entenda? (...) Apesar disso, como nada é começado e aperfeiçoado ao mesmo tempo, e as idéias que vêm depois são consideradas mais sábias: assim, se edificamos sobre o seu fundamento que foi antes de nós, e estamos sendo ajudados por seu trabalho, esforcemo-nos para tornar melhor aquilo que deixaram tão bem; nenhum homem, estamos certos, tem motivos para não gostar de nós; estamos persuadidos de que eles, se estivessem vivos, agradecer-nos-iam”.

Essa apreciação, porém, não se tornou imediatamente acessível ao público britânico. O surgimento de outra revisão apenas trouxe confusão para muitos iletrados. Como puderam todas estas várias traduções dizer-se a Palavra de Deus?

A isto, a Comissão da King James respondeu com muito tato e sabedoria:
“Não negamos, antes afirmamos e reconhecemos, que mesmo a tradução mais medíocre da Bíblia em inglês, publicada por homens de nossa profissão (...) contém a palavra de Deus, ou melhor, é a palavra de Deus. Como a Kings Speech, que tem circulado no Parlamento, sendo traduzida para o francês, alemão, italiano e latim, ainda é a Kings Speech, embora não seja interpretada por cada tradutor com a mesma graça, nem talvez tão adequadamente quanto à fraseologia, nem tão expressamente quanto ao sentido em cada circunstância (...) Não causa, portanto, porque a palavra traduzida seria negada como a palavra, ou retirada de circulação, antes que alguma imperfeição ou defeito pudessem ser notados em sua publicação”.

Todos fariam bem em partilhar sua generosa consideração com outras versões, Em lugar disso, é um estranho paradoxo ver um defensor da Versão King James fazendo desonrosas observações a respeito de outras traduções. Essa não foi a atitude da comissão de 1611.

Os revisores da King James foram gratos por todas as versões que os haviam precedido. Seu único objetivo era manter em boas condições a Bíblia Inglesa.

Como eles se alegrariam ao ver as versões de nossos dias! Quão atrativamente são elas impressas, como são fáceis de ler e quão fáceis de se adquirir!

Um exemplar da Versão Almeida pode ser comprado por uns poucos cruzados apenas, enquanto a Versão king James de 1611 custa uma fortuna.

É verdade que nem todas as versões são traduzidas “tão adequadamente quanto à fraseologia, nem tão explicitamente quanto ao sentido, em todas as partes”. É possível encontrar “imperfeições e defeitos” em muitas delas.

Mas como salientaram os eruditos da King James em seu prefácio, o reino de Deus não é palavras e sílabas. A verdade sobre Deus permanece eternamente a mesma, a despeito da impropriedade da linguagem humana para descrevê-lo.

O próprio contraste entre a grandeza de Deus e as limitações da linguagem humana, tornam a variedade na tradução bíblica grandemente desejável - na verdade, indispensável.

Tiremos o chapéu para os tradutores da King James! Sua versão agora parece antiquada. Mas sua compreensão do propósito da Palavra de Deus é tão moderna quanto hoje.

Você pode confiar nas traduções publicadas por esses homens.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Você pode confiar nos livros? [Série "Você pode confiar na Bíblia?"]

Quando se faz a pergunta: Em quanto da Bíblia podemos confiar? A resposta confiante muitas vezes ouvida é - com destaque especial na primeira palavra - "Toda a Escritura é dada por inspiração de Deus". II Timóteo 3:16.

Mas quanto deve ser incluído na palavra "toda"?

Quando um protestante dá essa resposta, ele está pensando nos sessenta e seis livros de sua versão predileta da Bíblia em português.

Quando um católico romano usa o mesmo texto, ele está pensando nos sessenta e seis livros mais um número adicional destes, comumente conhecidos como os Apócrifos.

O Antigo Testamento aceito pelos protestantes e judeus, termina com o livro de Malaquias. O Antigo Testamento católico finda com Segundo Macabeus.

No Antigo Testamento judaico e protestante, o livro de Daniel tem apenas doze capítulos. No Antigo Testamento católico há quatorze.

Qual deles está certo? Depois de tantos séculos, haveria talvez uma questão séria quanto à autenticidade dos documentos bíblicos?

Jesus parece ter sempre expressado confiança na Bíblia que usava. Certo dia, após a ressurreição, Ele disse a Seus discípulos que deviam crer em tudo o que se a Seu respeito estava escrito "na lei de Moisés, nos profetas, e nos salmos". S. Lucas 24:44.

Nessas palavras Jesus endossou os livros do Antigo Testamento conforme eram costumeiramente organizados naqueles dias. Através do anos, ao serem escritos, os livros do Antigo Testamento foram gradualmente organizados em três grupos ou divisões.

Os primeiro cinco livros da Bíblia formam a divisão de "a Lei" ou da "Lei de Moisés". Josué, Juízes, Samuel, Reis, Isaías, Jeremias, Ezequiel e os doze profetas menores formam a divisão de "os Profetas".

Os livros restantes do Antigo Testamento formavam a terceira divisão, "os Escritos".

Os trinta e nove livros destas três divisões formaram o cânon do Antigo Testamento. "Cânon" quer dizer "medida" ou "norma". Um livro "canônico" é aquele que estabelece um certo padrão.
Nos primeiro anos da Igreja cristã, mais vinte e sete documentos foram considerados como medida-padrão e finalmente organizados no cânon do Novo Testamento.

Os sessenta e seis, porém, não eram de maneira alguma os únicos livros religiosos em circulação que pareciam ser bíblicos. Na verdade, havia muito mais livros considerados não canônicos do que eram aceitos como autorizados.

Muitos deles foram escritos durante o período entre os Testamentos e tinham grande semelhança com os livros já no cânon. Eles receberam títulos como A Sabedoria de Salomão, Eclesiásticos, A Carta de Jeremias, de Judite, de Tobias, de Bel e o Dragão, Primeiro e Segundo Macabeus, o Livro de Adão e Eva, o Martírio de Isaías, Primeiro e Segundo Enoque.

Cerca de uma dezena deles vieram a ser considerados pelos judeus que viviam fora da Palestina como tendo importância suficiente para merecerem ser incluídos, juntamente com os demais livros, no Antigo Testamento. Finalmente, tornaram-se parte integrante da tradução grega do Antigo Testamento, preparada durante o terceiro e o segundo século antes de Cristo pelos judeus que falavam o grego, no Egito. Essa versão do Antigo Testamento, chamada de Septuaginta, tornou-se a Bíblia amplamente usada pela Igreja cristã primitiva.

Alguns que ainda têm consideração especial por esses livros extras, ficam contentes em mostrar que Timóteo era grego (Atos 16:1), Nesse caso, naturalmente ele deve ter usado a Septuaginta, e a Septuaginta continha os livros extras. Consequentemente, quando Paulo escreveu: "Toda a Escritura é dada por inspiração de Deus", estava incluindo os livros extras do Antigo Testamento como igualmente canônicos!

É interessante notar, entretanto, que o grego de II Timóteo 3:16 pode ser interpretado, como ocorre na New English Bible e outras, da seguinte maneira: "Toda Escritura inspirada tem seu uso."

Isto sugere, de preferência, que o apóstolo estava lembrando a Timóteo que, embora houvesse muitas escrituras em circulação, somente aquela que é inspirada por Deus é proveitosa.

Os judeus mais conservadores, em especial aqueles que estavam mais intimamente envolvidos na preservação do Antigo Testamento hebraico, jamais aceitaram os livros extras como canônicos. Eles os consideravam antes como "apócrifos", ou "desconhecidos", provavelmente significando que eles merecem ser retirados de circulação como espúrios ou heréticos.

Quando o erudito católico Jerônimo estava aprendendo hebraico, praparando-se para fazer a revisão da Bíblia latina, ele concordou com este conceito de que os livros extras do Antigo Testamento não eram legítimos. Ele pediu que todos esses livros que não estavam incluídos no cânon hebraico fossem considerados apócrifos.

Através dos séculos, muitos outros teólogos católicos doutos e líderes da Igreja têm tomado a mesma posição de Jerônimo. Mesmo o Cardeal Cajetano, oponente de Lutero em Augsburg em 1518, expressou sua conformidade com o cânon hebraico e recomendou que não se confiasse nos livros considerados por Jerônimo como apócrifos para pontos de doutrina.

A despeito disso, os Apócrifos conservaram sua posição tradicional na Vulgata Latina e nas traduções portuguesas do Antigo Testamento vindas do latim, em lugar de virem do original hebraico ou aramaico. A Bíblia do 1382, de João Wycliffe, era uma destas.

Na Bíblia além de 1534, Lutero reuniu os livros apócrifos em uma seção entre os Testamento e acrescentou estes dizeres: "APÓCRIFOS - isto é, livros que não são iguais às Escrituras Sagradas, mas são proveitosos e bons para se ler."

Como reação à crítica protestante, o Concílio de Trento, em 78 de abril de 1546, declarou que com exceção de três livros, os apócrifos fossem aceitos como sagrados e inteiramente canônicos.
Todas a Bíblias inglesas dos protestantes, do século dezesseis, continham os Apócrifos no fim do Antigo Testamento. Na verdade, os livros discutidos foram incluídos regularmente nas Bíblias inglesas até uma decisão tomada em 1827 pela Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, no sentido de que o estatuto fundamental da sociedade proibisse a circulação dos Apócrifos através dela. A Sociedade Bíblia Americana chegou à mesma conclusão.

Como pode alguém saber pos si mesmo se os livros são dignos de sua confiança? E que dizer dos outros livros considerados não canônicos pelos judeus, protestantes e católicos indistintamente? Por que padrão um livro pode ser considerado como "impróprio"?

A história da origem dos livros extras fornece algumas pistas. As opiniões de centenas de fiéis não devem ser subestimadas. Mas em última análise, nada é tão convincente como a própria leitura dos livros. É também uma experiência muito interessante e às vezes recreativa.

Pode-se tomar a decisão mais cômoda com respeito aos escritos apócrifos copiados depois dos livros do Novo Testamento. Este incluem os evangelhos, atos, epístolas e revelações apócrifos.

No Evangelho de Tomé, conta-se a história de que o Menino Jesus construiu pequenas represas e fez pardais do barro úmido. Quando Seu pai ralhou por Ele estar fazendo aquilo no sábado, Jesus ordenou: "Vão embora!" E os pardais levantaram vôo e foram embora cantando.

Em outra parte, diz o mesmo livro apócrifo, um menino bateu no ombro de Jesus. Esta amaldiçoou o menino e ele morreu.

Os Atos de João mencionam uma experiência extraordinária de João com os percevejos. A tradução é tirada da imprescindível edição do Novo Testamento apócrifo de M. R. James: "Logo no primeiro dia, chegamos a uma pousada deserta, e quando estávamos à procura de uma cama para João, vimos uma coisa engraçada. Havia algures uma armação de cama sem cobertores, sobre a qual estendemos as capas que estávamos vestindo, e pedimos que ele se deitasse nela e repousasse, enquanto nós outros dormiríamos no chão. mas quando ele ia deitar-se, era importunado pelos percevejos; e como estes se tornassem cada vez mais incômodos, por volta da meia-noite ele lhes disse, de maneira que todos podemos ouvir: "Digo-lhes, ó percevejos, que cada um de vocês se comportem, e abandonem sua moradia por esta noite, fiquem quietos em um lugar e se mantenham longe dos servos de Deus. E enquanto ríamos, e conversávamos um pouco, João se vestia para dormir; e nós, falando baixinho, procuramos não perturbá-lo...
"Mas quando o dia já estava rompendo, despertei primeiro, e comigo Verus e Andrônico, e vimos no quarto da casa que havíamos tomado um grande número de percevejos em pé, e enquanto nos admirávamos com a grande sagacidade deles, e todos os irmãos estavam acordados por causa deles, João continuava dormindo. E quando ele despertou, dissemos-lhe o que havíamos visto. E ele se assentou na cama, olhou para eles e disse: Uma vez que vocês se comportaram bem, atendendo a minha advertência, venham para seu lugar. E quando ele disse isto, e se ergueu da cama, os percevejos correram depressa do quarto para a cama, subiram pelas pernas desta e desapareceram entre as fendas. E João disse novamente: Estas criaturas atentaram para a voz de um homem e permaneceram por si mesmas em um luar e ficaram quietas e não transgrediram; mas nós que ouvimos a voz e as ordens de Deus, desobedecemos e somos fúteis: e por quanto tempo?"

Os Atos de Pedro contam como Simão o mágico impressionava as multidões voando sobre a cidade de Roma! Outro fragmento denominado Atos de André e Pedro, lembra como Pedro conquistou mil almas fazendo um camelo passar pelo fundo de uma agulha nas mais extraordinárias e engraçadas circunstâncias.

Uns poucos grupos de cristãos primitivos aceitaram alguns dos livros apócrifos do Novo Testamento como autorizados, mas o parecerem quase unânime de toda a Igreja cristã tem sido que os livros extras do Novo Testamento simplesmente não contribuem para a dignidade e o bom senso dos livros já considerados canônicos.

Os livros apócrifos do Antigo Testamento, que foram rejeitados pelos católicos, protestantes e judeus, foram indistintamente chamados "pseudo-epigráficos", significando "falsamente entitulados". Muitos deles contêm material claramente inferior e indigno de um lugar entre escritos dos grandes profetas hebreus.

Quando alguém vai aos livros apócrifos aceitos no cânon católico, a decisão exige consideração mais cuidadosa. Parte do material, como as histórias de Bel e o Dragão, não parece mais sério do que anedotas no Novo Testamento Apócrifo. Mas o livro de Primeiro Macabeus contém valiosas histórias. Eclesiásticos e a Sabedoria de Salomão encerram dizeres muito sábios e piedosos.

Lutero se opôs ao Apócrifos no sentido de que eles ensinam idéias contrárias aos livros do cânon hebraico. Entre estas estava a doutrina do purgatório e da eficácia das orações em favor dos mortos (II Macabeus 12:43-45). Ele fez observação também quanto ao considerável realce sobre a obtenção de mérito por meio das boas obras (Tobias 12:9; Eclesiástico 3:33; II Esdras 8:33; etc.)

Para minha própria satisfação, já li mais de uma vez a coleção inteira dos documentos bíblicos, até onde foi possível, de uma vez. Ela ocupa apenas um fim-de-semana prolongado, e o esforço é bastante válido.

Quando eu chegava ao último livro do Novo Testamento Apócrifo, ainda tinha vívidas lembranças de Gênesis e Malaquias, Primeiro Esdras e Segundo Macabeus, do Livro dos Jubileus e da História de Ahikar, Mateus e Apocalipse, do Evangelho Segundo os Hebreus, e da Revelação de São Pedro.

Nessa composição global, os sessenta e seis livros do cânon do Antigo e do Novo Testamento assumiam um lugar especial.

Não é que os livros apócrifos e pseudo-epigráficos sejam sem valor. Mesmo o pior deles, fala-nos alguma coisa das crenças e das práticas daquele tempo.

Mas entre os sessenta e seis há uma medida de coerência e consistência que se deve esperar e requerer de documentos que pretendem falar a verdade a respeito de Deus.

Esta é a norma básica de canonicidade. E através dos séculos, os livros que preencheram esse requisito foram reconhecidos como "alcançando a norma".
No que diz respeito ao Novo Testamento, católicos e protestantes estão de acordo em que os livros canônicos são os tradicionais vinte e sete.

Quanto ao Antigo Testamento, parece haver boas razões para seguir o exemplo do católico Jerônimo, do protestante Lutero e das sociedades bíblicas interdenominacionais em reconhecer os trinta e nove livros do cânon hebraico como os mais dignos de nossa confiança.

A implausibilidade dos ciclos metabólicos na Terra prébiótica

Artigo um pouco antigo, direto do site do Enézio, um pouco mais específico, para quem é da área de biológicas. Espero que seja proveitosa.

"No dia 26 de janeiro de 2008, eu recebi o último artigo de Leslie Orgel sobre a questão da origem da vida que poderia muito bem ser jocosamente intitulado: “Porcos não voam, e a vida não é o abracadabra do acaso e da necessidade”.

Leslie E. Orgel, pesquisador par excellence da origem da vida, faleceu em outubro de 2007, trabalhava no Salk Institute for Biological Studies [Instituto Salk de Estudos Biológicos]. Junto com Stanley Miller, famoso pela sua experiência nos anos 1950s que produziu apenas alguns aminoácidos, mas que foi incensada pela Nomenklatura científica e pela Grande Mídia como sendo a explicação plausível para a origem da vida, Orgel escreveu o livro Origins of Life on the Earth [Origens da Vida na Terra] (1973). Como cientista, Orgel trabalhou na área por décadas e conhecia muito bem todas as abordagens sobre a origem da vida.

Gerald Joyce [Scripps Institute] escreveu uma eulogia para Orgel na revista Nature em dezembro de 2007: “Embora Orgel fosse um teórico, ele sempre exigiu que a teoria fosse sujeita a rigorosa validação experimental. Isso, ele percebeu, era especialmente verdade no campo das origens da vida, onde as teorias abundam em números e os fatos estão em falta.”

Estas palavras de Joyce vão reverberar dramaticamente no artigo devastador de Orgel criticando a rota do ciclo metabólico para a origem da vida recém-publicado postumamente na plos Biology de 22 de janeiro de 2008. A idéia que se ganha é a de que Orgel estava trabalhando neste artigo quando morreu.

Depois que eu li en passant o artigo de Orgel, eu não tenho boas notícias para dar aos pesquisadores da origem da vida: vocês não vão ficar nada encorajados no último artigo e testamento científicos de Orgel. Nós devemos ler este artigo cum granum salis, pois vem de alguém que gastou toda a sua vida acadêmica trabalhando e pensando sobre a evolução química.

O artigo é intitulado “The Implausibility of Metabolic Cycles on the Prebiotic Earth” [A implausibilidade dos ciclos metabólicos na Terra prébiótica]. O cabeçalho afirma “neste artigo, a contribuição final de sua carreira científica, Leslie Orgel explora as dificuldades severas que surgem quando estas propostas são escrutinizadas do ponto de vista da plausibilidade química.”

Nos anos 1990s a pesquisa sobre a origem da vida se bifurcou em duas abordagens discrepantes. A abordagem “genética” (Stanley Miller, Leslie Orgel, Jeffrey Bada, Steven Benner e outros cientistas) procurava macromoléculas prebióticas capazes de transportar informação genética: DNA, RNA, PNA, TNA e outras candidatas.

A abordagem mais nova, a “metabólica” é menos ambiciosa da expectativa desses polímeros complexos surgirem naturalmente. Este grupo propõe ciclos auto-sustentadores de elementos químicos mais simples que podem surgir para serem “cooptados” mais tarde pelo RNA armazenando informação e pelo DNA (Gunter Wachterschauser, Michael Russell, Harold Morowitz, Stuart Kauffman, e Robert Shapiro).

O que é interessante aqui no artigo de Orgel é que alguém poderia esperar que ele fosse ser parcial com a escola genética, mas as suas críticas finais da área são amplas o suficiente para levantar sérias preocupações sobre a capacidade dos processos naturais produzirem a vida por qualquer método. Se nós combinarmos este artigo com a crítica devastadora de Shapiro das abordagens genéticas ano passado, a idéia que alguém tem os dois grupos se degladiaram e receberam golpes mortais, caindo as duas juntas porque não passaram no contexto da justificação teórica.

Orgel não rejeitava completamente a abordagem metabólica em bases teóricas. Na verdade, ele afirmou no artigo, “Se os ciclos complexos análogos aos ciclos metabólicos pudessem ter operado na Terra primitiva, antes do aparecimento das enzimas ou outros polímeros informacionais, muitos dos obstáculos para a construção de um cenário plausível para a origem da vida desapareceria.”

Nós não devemos enxergar obstinação de Orgel nesta questão. Sem dúvida que ele daria boas vindas a tal descoberta. O que incomodava Orgel é a implausibilidade dos cenários metabólicos que, para ele, tornava-os inúteis no mundo real. Para Orgel, os cenários não podem ser meramente engenhosos e imaginativos: eles precisam obedecer as leis da química e devem ser experimentalmente demonstráveis.


Feyerabend se fosse vivo iria gostar do texto de Orgel: está disponível para a livre leitura pelo público. Orgel declarou, “O propósito principal deste ensaio é examinar a plausiblidade destes e de alguns ciclos não-enzimáticos hipoteticamente relacionados. Poderiam as moléculas prebióticas e catalizadores terem plausivelmente os atributos que devem ser designados a ele a fim de tornar a auto-organização dos ciclos possível?”

Aqui eu estou dependendo de alguém com muito mais conhecimentos do que eu em química para tentar destrinchar o jargão [nem sempre segui suas sugestões] e decifrar as principais críticas de Orgel:

1. O “poderia” somente não basta: “Deve ser reconhecido que a avaliação da exequibilidade de qualquer ciclo prebiótico particular proposto deve depender em argumentos sobre a plausibilidade química, em vez de uma decisão sobre a possibilidade lógica.” Afirmar que uma reação química seja possível não significa que ela irá ocorrer alguma vez. Quais são os reagentes específicos? Quão eficientes eles são? Os pesquisadores apresentar idéias que são quimicamente plausíveis, não apenas possíveis.

2. “No papel” somente não basta: “é um ciclo catalítico no qual uma seqüência complicada de reações enzimáticas é usada para realizar indiretamente uma reação que parece simples no papel, mas não facilmente alcançada na prática.” Um pesquisador precisa pensar sobre os co-fatores químicos exigidos, e a possibilidade de reações cruzadas que causam danos, por exemplo, ou se as
reações num ciclo são prováveis de agirem num espaço de tempo realístico.


3. “Tempo” não basta: Um ciclo metabólico numa Terra primitiva pode ter tido muitas eras mais extensas para trabalhar do que um químico num laboratório. “Contudo, a identificação de um ciclo de plausíveis reações prebióticas é um passo necessário, mas não é um passo suficiente para a formulação de um ciclo prebiótico auto-organizador plausível.”

4. Saída para a direita, oops, saída para esquerda, onde é a saída mesmo? Cada passo num ciclo metabólico precisa ser bastante eficiente para manter todo o ciclo funcionando. “O ciclo não poderia sobreviver se as reações laterais escoarem mais da metade dos componentes do ciclo irreversivelmente, porque então a concentração dos componentes do ciclo decairiam exponencialmente para zero.”

5. Elos mais fracos quebram a corrente: Um pesquisador pode ser capaz de propor que cada etapa num ciclo metabólico, digamos as 11 etapas no ciclo reverso do ácido cítrico, seja plausível num ambiente prebiótico. “Contudo, as reações não são independentes porque cada reação é direcionada para completude pelo uso de seus produtos como o input para a reação subseqüente do ciclo.”

6. Não se esqueçam da minha Caloi, oops, da termodinâmica: Porque as reações são reversíveis, é provável que o input de uma etapa será esvaziado. “Qualquer que seja o input original, alguém acabaria com uma mistura de equilíbrio, cuja composição é determinada pela termodinâmica.” O equilíbrio significa que você está imobilizado e nada mais acontecerá.

7. Nem todas as reações são criadas iguais: Orgel relaciona sete reações no ciclo reverso do ácido cítrico (um cenário popular para um cenário metabólico auto-organizante) que são completamente diferentes. “O ciclo reverso do ácido cítrico envolve um número de tipos fundamentalmente diferentes de transformações químicas”, disse ele; “No mínimo, seis atividades catalíticas diferentes teriam sido necessárias para completa o ciclo reverso do ácido cítrico.” O que isso exigiria: seis ambientes diferentes sobre a Terra primitiva? Isso “poderia ser argumentado, mas com plausibilidade questionável,” destacou ele.

8. Cuidado com os políticos, oops, ladrões: Reações laterais danosas são freqüentemente mais prováveis de ocorrer do que as desesjadas. Orgel dá exemplos, tais como as difícieis reações de carboxilação. “Esta reação moveria o material irreversivelmente do ciclo, de modo que alguém tem que postular um catalizador específico que faça a distinção entre o ácido sucínico e o málico.”

9. Inspetores são necessários: As enzimas biológicas em células vivas são as especialistas em discriminar entre os substratos similares. O mesmo não pode ser tido como certo num ambiente prebiótico: “Alguém precisa, portanto, postular catalizadores altamente específicos para estas reações. É provável que tais catalizadores possam ser construídos por um químico sintético competente, mas questionável que eles possam ser encontrados entre os minerais que ocorrem naturalmente ou moléculas orgânicas prebióticas.”

10. Somente minerais não bastam: Superfícies de argila e outros substratos têm sido ingredientes popularesem cenários do ciclo metabólico. As reações necessárias podem ocorrer nessas mesas de laboratório naturais, eles dizem. Orgel discute dois cenários principais. “Embora os detalhes das duas propostas sejam diferentes, a dificuldade de atingir todas as reações exigidas enquanto se evita todas as prováveis reações laterais parece no mínimo tão formidável” nas duas.

11. Acenar pra chamar a atenção não basta: Orgel critica uma proposta recente feita por Wachtershauser que descreve a auto-organização através da “reprodução metabólica, evolução, e herança pela resposta do ligante.” Palavras que exigem muita atenção. “Infelizmente, ele nunca explica, mesmo em resumo, como este mecanismo conduziria à síntese dos nucleotídeos de aminoacil conjugados que parece ser uma característica essencial da proposta.”

12. Formose só não basta: “O único ciclo que tem sido experimentalmente demonstrado é a envolvida na reação da formose — a polimerização do formoldeído para dar uma mistura notoriamente complexa de produtos, inclusive a ribose, o componente orgânico da backbone do RNA.” Bem, talvez este deva ser o caminho a ser explorado! Na verdade, os pesquisadores têm explorado este caminho desde que
foi descoberto no século 19th. Seria este o Cálice Sagrado das teorias da origem da vida? Não exatamente; a mistura deve ser adicionada de certas impurezas para começar, e “apesar de alguns êxitos, ainda não é possível canalizar a reação formose de tal maneira que produza ribose em quantidade substancial.”

A ribose, é claro, é um dos produtos necessários, mas mais difíceis produtos do RNA para se imaginar formando na Terra prebiótica — especialmente na presença de água. Os ciclos esperançosos propostos, infelizmente, produzem um punhado de produtos de reação imprestável.

13. Não basta ser simples: Orgel tem uma seção intitulada “Cycles and the Evolution of Complexity” [Ciclos e a evolução da complexidade]. Faz de conta que um ciclo comece. Isso não significa que a complexidade evoluirá. “Um ciclo... não parece ser capaz de evoluir em qualquer maneira interessante sem se tornar mais complexo.” Os cenários que sugerem uma quantidade substancial de “conteúdo de informação” emergirá de de um ciclo simples, com macromoléculas genéticas vindo mais tarde para adicionar estabilidade, não mais do que “intuições” — não são esquemas que podem ser examinados criticamente.

14. Variação só não basta: Sugerir que uma mudança na temperatura ou na concentração seja uma forma de evolução é um trocadilho. Por exemplo, “alguém não poderia afirmar vantajosamente que a dependência da taxa de uma reação como a hidrólise de ésteres em condições de reação seja uma forma de evolução.” Em algum ponto você terá que adicionar complexidade ao quadro. “A evolução de
qualquer complexidade adicional substancial de um ciclo, portanto, deve depender da aposição de mais seqüências de reação àquelas presentes no ciclo importante.”

15. A lei da diminiuição dos lucros: “Dada a dificuldade de se encontrar um conjunto de catalizadores que sejam suficientemente específicos para capacitarem o ciclo original, é difícil ver como que alguém poderia esperar encontrar um conjunto capaz de capacitar dois ou mais conjuntos.” Quanto mais você obtém do ciclo simples original, mais os problemas aumentam. Orgel ouviu um punhado de cenários sugeridos, nenhum deles “explica como que uma família de ciclos complexos interconectados capazes de evolução poderiam surgir ou porque ele seria estável.”

Em vários parágrafos detalhistas, Orgel desmantela a proposta matemática de Kauffman de um ciclo peptídeo. [2] Muito mais interessante, até parece que Orgel lia o meu blog, são alguns comentários airosos, cutucando as fraquezas do oponente:

Pela fé: A descoberta de um ciclo possível que evolua seria uma grande descoberta, mas...

“O que é essencial, portanto, é uma descrição detalhada razoável, que seja auspiciosamente apoiada por evidência experimental, de como uma família de ciclos capazes de evoluir possa operar. O esquema não deve fazer exigências absurdas sobre a eficiência e especificidade dos vários catalizadores gerados externa e internamente que devem estar envolvidos. Sem tal descrição, a aceitação da possibilidade de organizações cíclicas complexas não-enzimáticas que são capazes de evolução somente pode ser baseada pela fé, uma rota notoriamente perigosa para o progresso científico.”

Por design inteligente: Catatau, meu! Orgel falou que você consegue resultados experimentais fantásticos se você adicionar design inteligente à equação:

“Ghadiri e seus colaboradores demonstraram experimentalmente que ciclos peptídeos do tipo conjeturado pela teoria de Kauffman são possíveis. Eles primeiro demonstraram que os peptídeos do tamanho 32 que foram cuidadosamente planejados para se auto-associarem na formação de espirais estáveis irão facilitar a ligação das suas subseqüências de terminais N e C. Isto mostra que a auto-replicação de peptídeos é possível. Em trabalho posterior, eles demonstraram a auto-organização de redes de reações ligantes quando mais do que dois inputs de peptídeos cuidadosamente planejados são usados. Contudo, essas descobertas não podem apoiar a teoria de Kauffman a menos que a síntese prebiótica específica do 15mer e do 17mer input de peptídeos dos aminoácidos monoméricos possa ser explicada. Do contrário, as experiências de Ghadiri ilustram o ‘design inteligente’ de input de peptideos, e não a auto-organização espontânea de aminoácidos polimerizantes.

Design inteligente??? Esta palavra ‘shibolet’ maldita caindo nos ouvidos da Nomenklatura científica??? Vai ver Orgel teve uma recaída epistêmica antes de morrer... Mas ele realça sua posição: essas longas cadeias necessárias para os ciclos autocatalíticos se formam espontaneamente? Em vários parágrafos ele vai explicar por que não. Numa de suas pequenas respostas, Orgel invocou palavras que soam como o critério de Dembski da complexidade especificada que detecta design na natureza: “Claramente, a auto-organização exige catalização que não é somente suficientemente eficiente, mas também seqüencial- específica suficientemente.”

Orgel pausa para se maravilhar de como a vida faz o que faz:

“As propriedades catalizadoras das enzimas são impressionantes. Elas não somente aceleram as taxas de reação em muitas ordens de magnitude, mas elas também fazem a distinção entre substratos potenciais que diferem muito levemente em estrutura. Alguém esperaria uma diferenciação semelhante no potencial catalítico de peptíeos de tamanho 10 ou menos? A resposta é nitidamente “não”, e é esta conclusão que defintivamente solapa a teoria do ciclo peptídeo.”


Alguns parágrafos adiante, Orgel considera tentativas de consertar a teoria de Kauffman. Bem, tentar Orgel tentou: “Mesmo que se tal sistema exista, a sua relevância para a origem da vida não está clara”, disse ele impiedosamente. “Portanto, é improvável que a teoria de Kauffman descreva qualquer sistema relevante para origem da vida.”

No parágrafo conclusivo de seu artigo, Orgel estabelece as regras que todos os pesquisadores da origem da vida devem obedecer: numa frase, sejam realistas!

“Considerando-se a importância do tópico, é essencial submeter as propostas de metabolizadores ao mesmo tipo de exame e crítica detalhadas que têm sido corretamente aplicadas às teorias genéticas.” Orgel se refere aqui às críticas feitas por Shapiro. Pelo menos os teóricos de genéticas, como ele, têm “um corpo substancial de trabalho experimental” em seus currículos.

Orgel, sem dó nem piedade epistêmicas, enfia os dedos nos olhos dos contadores de ‘estórias da carochinha’:

“Quase todas as propostas de ciclos metabólicos hipotéticos têm reconhecido que cada uma das etapas envolvidas deve ocorrer rapidamente o suficiente para que o ciclo tenha êxito no tempo disponível para sua operação. É sempre assumido que esta condição é encontrada, mas em nenhum caso foram apresentados os argumentos persuassivos apoiando-a. Por que alguém deveria acreditar que um conjunto de minerais que são capazes de catalizar cada uma das muitas etapas do ciclo reverso do ácido cítrico estava presente em toda parte na Terra primitiva, ou que o ciclo misteriosamente se auto-organizou topograficamente numa superfície de metal sulfídeo? A falta de um background apoiador em química é até mais evidente em propostas em que os ciclos metabólicos podem evoluir em complexidade do tipo ‘parecido com a vida’. O desafio mais sério para os proponentes das teorias de ciclo metabólico — os problemas apresentados pela falta de especificidade da maioria dos catalizadores não-enzimáticos — não tem, em geral, sido apreciado.
Se tem, ele tem sido ignorado. As teorias da origem da vida baseadas em ciclos metabólicos não podem ser justificadas pela inadequação de teorias competidoras: elas devem ficar em pé por si mesmas.”

Orgel tentou suavizar um pouco a barra dos ‘contadores de estórias da carochinha’ da origem da vida, oops teóricos e pesquisadores da origem da vida, suavizando seu discurso com sugestões tipo ‘notas promissórias epistêmicas’ de que ciclos plausíveis poderão ser desocbertos um dia, por exemplo, ao redor de eventos hidrotermais, e que esses merecem mais investigação. “É importante entender” contudo, “que o reconhecimento da possível importância de sínteses prebióticas que poderiam ocorrer hidrotermicamente não necessita de uma crença de sua capacidade de se auto-organizar.”

Nas suas últimas palavras no parágrafo final de seu artigo, Orgel generalizou em relação a todas as teorias da origem da vida. Vocês precisam de blocos construtores puro para obtenção de polímeros que possam replicar-se. Vocês precisam peneirar o bom do mal nas misturas complexas que resultam das experiências. “Nenhuma solução do problema da origem da vida será possível até que a lacuna entre os dois tipos de química estiver fechada.”

Depois, ele enunciou as palavras mais contundentes direcionadas para toda a comunidade de pesquisadores da origem da vida:

“A simplificação de produtos de misturas através da auto-organização das seqüências de reação orgânica, se cíclica ou não, ajudaria enormemente, como seria a descoberta de polímeros replicadores muito simples. Contudo, as soluções oferecidas pelos defensores dos cenários geneticista ou metabolista que são dependentes na química hipotética “se os porcos podem voar” são improváveis de ajudar.”

NOTAS:

1. Leslie E. Orgel,
“The Implausibility of Metabolic Cycles on the Prebiotic Earth,” Public Library of Science: Biology , 6(1): e18, Jan 22, 2008, doi:10.1371/journal.pbio.0060018.

2. O modelo de Kauffman depende nos peptídeos crescerem até certo comprimento que possam autocatalizar-se. Orgel mostra que fatores adicionais que seriam exigidos, reduzindo a plausibilidade desta hipótese, que é mais matemática do que experimental. Kauffman interpreta mal a termodinâmica da formação de ligação de peptídeos. Ele acha que os aminoácidos serão abundantes e irão formar espontaneamente polipetídeos longos. Orgel reclama, “Na prática, isso não aconteceria.” Na verdade, a necessidade de agentes de junção se torna um problema para todas as teorias da origem da vida que dependem na formação de polipeptídeos ou polinucleotídeos. O problema “somente poderia ser evitado pela proposição de uma série de monômeros, como os aminoaldeídos, que polimerizam espontaneamente, mas a dificuldade de se encontrar uma síntese prebiótica de monômeros adequados então se torna severa.” "

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

"Um Bando de Mentirosos" [Série "Você pode confiar na Bíblia?"]

"Mateus, Marcos, Lucas e João – um bando de mentirosos!”


Parado numa movimentada esquina do centro de Chicago, dificilmente eu me achava preparado para ouvir tão taxativa declaração – principalmente de alguém que estivera procurando esconder seus desapontamentos da forma costumeira.

Os olhos injetados e a face enrubescida, levavam ainda mais a esta conclusão.
“Já li todos, e não se pode confiar em nenhum deles!”.

Fiquei pensando no que poderia estar por trás da informação gratuita. Mas antes que me fosse possível perguntar, a patética figura se virou e continuou o seu caminho.

Vinte anos já se passaram desde que se deu este incidente, e durante esse tempo tenho ouvido a mesma melancólica desilusão de muitas outras pessoas. E parece haver sempre esse toque de melancolia, à semelhança do que ocorre quando a criança descobre que não existe Papai Noel. Quando um homem cresce confiando na Bíblia, ele acha difícil passar sem esse Livro.

Não faz muito, um médico amigo confidenciou-me as mesmas dúvidas inquietantes a respeito das Escrituras. “Pode você ser um estudioso honesto e ainda confiar nesse Livro antiquado?”.

Tenho o privilégio de ensinar religião a alunos de medicina e outras áreas da saúde. Um bom médico é um cientista. Ele insiste em fundamentar suas conclusões em suficiente evidência. Que paciente confiaria em um cirurgião que toma do seu bisturi sem cuidadoso exame dos fatos relacionados com o caso?
A mesma atitude inquiridora se verifica na aula de religião. Inevitavelmente, surge de novo a pergunta: Qual é a base, onde está a evidência, para se olhar a Bíblia com tanta confiança?

Foi como aluno de colégio que comecei a sentir a urgência de responder a mim mesmo esta pergunta. Eu havia crescido em um lar cristão. Como menino, acompanhei meu pai por todas as igrejas da Inglaterra. Muitas vezes me pedia que lesse os textos bíblicos antes que ele pregasse. E a maneira como falava acerca da Bíblia não deixava dúvida alguma do lugar onde ele estava.

Para um filho admirador, não havia necessidade de nenhuma outra evidência. Se o papai cria naquilo, também eu! Mas depois passei a notar que a confiança de meu pai era sua própria, e tudo o que ela me dizia era que de algum modo ele estava satisfeito.

Trinta anos atrás comecei a estudar o grego, e depois as outras línguas e instrumentos para pesquisar a história e significado da Bíblia. Quanto mais estudava, tanto mais razão encontrava pra confiar nas Escrituras.

É verdade que a Bíblia é um livro muito antigo. Ou antes, é uma coleção de livros muito antigos. O mais recente deles foi escrito por volta de dois mil anos atrás!

Como, então, podemos estar certos de que a Bíblia é hoje a mesma que era quando apareceu de início?

Podemos confiar nas palavras? Como podemos saber que elas não foram alteradas durante todos esses anos?

Podemos confiar no livro? É a coleção ainda a mesma? Foram uns perdidos e outros acrescentados?

E quanto às versões? Bíblia de Jerusalém, Almeida Revista e Corrigida, Almeida Revista e Atualizada, Bíblia Viva, na Linguagem de Hoje, King James e centenas de outras mais! Pode-se confiar em todas elas?

E com respeito ao significado? Pode o homem de hoje confiar em que encontrou o significado do Livro, nessa época moderna, com uma linguagem diferente?

Série "Você pode confiar na Bíblia?"


Olá amigos!

No mundo secularizado em que estamos, crer na Bíblia Sagrada é motivo de ridicularização e acusações de anacronismo, obscurecimento intelectual e até mesmo fanatismo.

É claro que, aos olhos menos educados, a Bíblia demonstra ser um livro logicamente absurdo e obviamente a Bíblia, "Palavra de Deus", como se pretende, acha-se na obrigação de prever isso: "Mas Deus escolheu o que para o mundo é loucura para envergonhar os sábios e esconheu o que para o mundo é fraqueza para envergonhar o que é forte" (I Coríntios 1:27).

Mas o que isso nos fala? Aos olhos humanos (se é que existe algum outro, questionando-se a priori, claro) somente que, para começarmos a entender Seus atos (e isso implica em admitir que Ele exista em forma pessoal, porque se não, nada de conversa e paramos por aqui), devemos abrir mão de nossa lógica, falha por natureza (tomando-se um referencial absoluto e perfeito, deixando-se uma possível discussão do que seria o "absoluto" e "perfeito" para uma outra ocasião).

Por outro lado, se é importante para Ele que creiamos que Ele exista e conheçamos Sua vontade, é necessário também que Ele se utilize da mesma linguagem que nós utilizamos - a lógica - para percebermos a realidade.

Chegamos, então, ao seguinte ponto nesse panorama: ou as acusações são verdadeiras, e a Bíblia não passa de um punhado de resquícios históricos de um povo e uma cultura relativamente primitiva, extinta em sua forma original e inútil para propósitos mais altos, ou as acusações são falsas e tem havido negligência e falta de conhecimento para interpretá-la ou a verdade (aí alguém vem e pergunta: "Mas o que é a verdade?"; novamente, deixemos outra ocasião, mas uma discussão séria fica em aberto) está em algum ponto intermediário entre essas duas posições.

Estando ela, até que ponto?

Pensando nisso, encontrei um livro escrito por A. Graham Maxwell, respeitado historiador, entiulado "Você pode confiar na Bíblia?", cujo título, a despeito da sinceridade de cada um, contém uma pergunta extremamente válida, e o qual pretendo postar os capítulos que abordam desde assuntos de tradução e interpretação de texto até a seleção do cânon bíblico, conforme for possível. Independentemente de se ler os capítulos na ordem ou não, é uma leitura - mesmo que não completamente técnica, pois faltam várias referências tangíveis no mundo acadêmico atual - extremamente proveitosa, tanto para quem começa hoje a se questionar seriamente sobre o assunto, quanto para quem já tem um tempo de estrada.

Aproveitem!

Como ler a Bíblia

Olavo de Carvalho

Jornal do Brasil, 17 de janeiro de 2007

Quando você lê um romance ou peça de teatro, não tem como julgar a verossimilhança das situações e dos caracteres se antes não deixar que a trama o impressione e seja revivida anteriormente como um sonho. Ficção é isso: um sonho acordado dirigido. Como os personagens não existem fisicamente (mesmo que porventura tenham existido historicamente no passado), você só pode encontrá-los na sua própria alma, como símbolos de possibilidades humanas que estão em você como estão em todo mundo, mas que eles encarnam de maneira mais límpida e exemplar, separada das contingências que podem tornar obscura a experiência de todos os dias. A leitura de ficção é um exercício de autoconhecimento antes de poder ser análise literária, atividade escolar ou mesmo diversão: não é divertido acompanhar uma história opaca, cujos lances não evocam as emoções correspondentes.

A mesma exigência vigora para os livros de História, com o atenuante de que em geral o historiador já processou intelectualmente os dados e nos fornece um princípio de compreensão em vez da trama bruta dos acontecimentos. Se você não apreende os atos dos personagens históricos como símbolos investidos de verossimilhança psicológica, não tem a menor condição de avaliar em seguida se são historicamente verdadeiros ou não. Um livro de História tem de ser lido primeiro como ficção, só depois como realidade.

O problema é que nem sempre as possibilidades que dormem no fundo da nossa alma nos são conhecidas -- e então não podemos reconhecê-las quando aparecem na ficção ou na História. O resultado é que a narrativa se torna opaca. Pior ainda, você pode se deixar enganar por falsas semelhanças, reduzindo os símbolos da narrativa a sinais convencionais das possibilidades já conhecidas, senão a estereótipos banais da atualidade. O reconhecimento interior não é só um exercício de memória, mas um esforço sério para ampliar a imaginação de modo que ela possa abarcar mesmo as possibilidades mais extremas e inusitadas. Você não pode fazer isso se não se dispõe a descobrir na sua alma monstros, heróis e santos que jamais suspeitaria encontrar lá.

Compreensivelmente, os monstros são mais fáceis de descobrir do que os heróis e santos. O medo, o nojo, a raiva e o desprezo são emoções corriqueiras, e eles bastam para tornar verossímil o que quer que nos pareça ser pior do que nós mesmos. Já aquilo que é nobre e elevado só transparece a quem o ama, e esse amor traz imediatamente consigo um sentimento de dever, de obrigação, como no célebre soneto de Rilke em que a perfeição de uma estátua de Apolo transcende a mera contemplação estética e convoca o observador a mudar de vida, a tornar-se melhor. A impressão humilhante de não estar à altura desse apelo produz quase automaticamente uma reação negativa -- o despeito. Negando a existência do melhor, reduzindo-o ao banal ou fazendo dele uma camuflagem enganosa do feio e do desprezível, a alma encontra um alívio momentâneo para o seu orgulho ferido, restaurando uma auto-imagem tranqüilizante à custa de encurtar miseravelmente a medida máxima das possibilidades humanas.

Se esse problema existe em qualquer livro de ficção ou de História, imaginem na Bíblia, onde o personagem central é o próprio Deus. Abrir-se ao chamado da perfeição divina é trabalho para uma vida inteira e mais uns dias, e vem entremeado de inumeráveis derrotas e humilhações -- mas sem isso você não compreenderá uma só palavra da Bíblia. Cem por cento do ateísmo militante consistem em despeito e incapacidade de leitura séria.